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Encantando crianças pelo planeta

Visitando um projeto cultural na escola da minha filha, me deparei com um tema que adorei. Aquele bando de gente miúda esteve, nos últimos meses, às voltas com projetos literários voltados para o tema do meio-ambiente. Montaram bichinhos, criaram brinquedos recicláveis, aprenderam a nomear animais, treinaram coordenação motora, linguagem e raciocínio usando como pano de fundo a diversidade da Terra. (Escola, aliás, que recomendo. Seu nome é Recriar e o link para seu site está aqui.)

Comecei a pensar, então, sobre o assunto da consciência ecológica.

Quando é que a desenvolvemos?

Sim, por que consciência ecológica--assim como empatia, ética ou respeito--é aprendida em algum momento de nossa caminhada, e grande parte deste caminho fica na infância.

Tentei achar um marco inicial, o momento do nascimento da minha consciência ecológica. Lembrei de pessoas, gestos e livros que influenciaram minha infância e, consequentemente, minha vida. Acredito que somos todos, na falta de uma metáfora perfeita, casas em construção. De alguma maneira, aspectos do mundo que entram logo cedo pelas vias dos sentidos invadem nossas células, assentam-se nos ossos, correm pelas veias. Essa influência se solidifica e dá sustento ao que nos tornamos mais tarde .

Eu nasci em uma família de gente que adora a natureza. Lembro de meu avô ajoelhado ao lado de poças de lama salvando formigas. Impedindo minha avó de matar baratas, querendo que ela entendesse –olhando nos olhos do bicho--seu desespero: “Olha só como o barata está com medo!” (Sim, o barata, ele era alemão.) Lembro de meu pai plantando árvores no sitio. Reclamando do vizinho que tomba a floresta para fazer pasto. Foram situações assim que acabaram me doutrinando. Hoje, para mim, em natureza não se põe preço.

A segunda influência veio da leitura. Na primeira série, ainda com 6, 7 anos, cantamos “Asa Branca,” de Luiz Gonzaga na sala de aula. Morri de chorar com a letra, especialmente na parte em que o alazão morre de sede e o pássaro tem que bater asas dali. Lembro também de um conto em um livro de português que falava do amor de uma árvore por um menininho. Ela espera a vida inteira que o menino volte, mas quando ele volta, pede para cortá-la e diz: “é só uma árvore.” Devo ter dado vexame na escola de novo.

E assim vai. Por que histórias assim tem a capacidade de nos influenciar (às vezes para a vida toda), juntei dois livros que marcaram minha infância como sugestão de leitura, os outros foram bem recomendados por sites especializados.

Vamos ler para nossas crianças, pessoal. O mundo precisa urgentemente de pessoas mais apaixonadas por ele, e a responsabilidade de encantar a futura geração é nossa.

Crédito da imagem: http://umlivrotododia.com/category/literatura-infanto-juvenil/

1. Tistu, O menino do Dedo Verde, de Maurice Druon

Amei, amei, amei. A história é mais ou menos assim: Tistu é rico, herdeiro da maior fábrica de canhões do mundo. Ao completar oito anos seus pais decidem que é hora dele aprender sobre os negócios da família. Como o menino nao se interessa pela escola, seus pais decidem que ele estudará em casa, sem livros. No dia de sua primeira aula com o jardineiro Bigode, Tistu descobre que tem um dom: o dedo verde. Basta um toque de seu polegar para que plantas e flores apareçam exatamente ali onde ele encosta. E com esse dom, ele ajuda um monte de gente...

2. A Árvore Generosa, de Shel Silverstein

Esse livro é um clássico. Publicado em 1964, ele até hoje circula por aí. Como não achei o tal conto que me fez chorar na escola, esse livro é o mais próximo dele que conheço. Ele conta a história do amor entre uma árvore e um menino. A árvore é a amiga amorosa que dá suas folhas, frutos e sombra, e o menino ama aquela árvore até que cresce e se torna adulto. À medida que cresce, diz que 'está grande demais para brincar', e que precisa de dinheiro para comprar 'muitas coisas'. A árvore o ajuda fornecendo maçãs, e continua ajudando-o até que o menino envelheça. Esta história é uma lição de consciência ecológica, de reavaliação de valores, do amor generoso da natureza vs. nossa mesquinhez. Até hoje os olhos enchem de água quando leio esse livro.

3. Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará, Angelo Machado

Nessa historinha a casa da vovó fica no Cerrado, e Chapeuzinho e o lobo abrasileiram. Chapeuzinho vai visitar a avó doente com uma cesta cheia de guloseimas, e corta caminho pelo cerrado brasileiro. Ela encontra árvores típicas e carregadas de frutas, além de animais como o mico-estrela, a coruja-buraqueira, as siriemas e o Lobo-Guará, que, por um trauma de infância, tem medo do escuro... Enfim, só de ler a sinopse dá vontade de ler o livro inteiro.

4. Era Uma Vez Um Rio, de Anne Raquel Sampaio

A Iara, o Saci-Pererê e o Curupira se juntam aos animais da Mata Atlântica para salvar um rio que está poluído e com as matas ciliares devastadas. Quer tema mais pertinente no momento do que este?

5. Na praia e no luar, tartaruga quer o mar, de Ana Maria Machado

Luísa, Pedro e Rodrigo moram à beira da praia. Quando eles encontram uma tartaruga machucada e presa em uma rede, pensam em pegá-la para virar almoço, até que Pedro sugere que eles a ajudem a voltar para o mar. Desse esforço nasce uma verdadeira campanha pela vida dos animais, e fatos novos--como a centena de anos que as tartarugas podem alcançar, por exemplo-- fazem aquelas crianças questionarem seu destino na panela. Eles enfrentam pescadores contrários à protecao, resistência da comunidade, fundam um clube e envolvem a escola no projeto. O legal desse livro? Eles agem, fazem alguma coisa. Ensinar sobre ecologia é bom, mas se você ensina as crianças desde cedo a agir, melhor ainda. A autora Ana Maria Machado, para quem nao sabe, ocupa a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras.


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